A estação do ano de cada um de nós. Por Silvana Lima

A estação do ano de cada um de  nós. Por Silvana Lima

Você é do tipo que saúda e até “faz pedidos” para que o mês que se inicia lhe traga coisas novas e boas nas redes sociais?

Eu, particularmente, acho isso engraçado. Pois, até onde entendo, e entendo poucas coisas, o calendário é uma tentativa nossa de contar o tempo. Dividindo -o em segundos, minutos, horas, dias, mês, ano … Enfim... Uma forma de nos localizar no Tempo e o Tempo...

            Aí, você acorda igual todos os dias , faz as mesmas coisas e em determinado dia, conforme a contagem de tempo, olha pela janela e diz : “ seja bem vindo setembro, me traga coisas novas!!” (por exemplo, por estarmos em setembro).

            Falo de setembro também, porque na minha história já esperancei, desejei, olhei para esse mês como algo mistico. Teve época da minha vida em que muitas coisas “boas” ( e coisas boas entendemos por aquilo que queremos, ou mesmo nem chegamos a desejar mas, elas chegam e nos satisfazem, nos alegram) aconteceram.

            Por muito tempo podia estar acontecendo o que fosse mas, quando setembro se aproximava eu começava a “respirar” esperança de mudança pelas lembranças vividas e vívidas em meu coração.

            Hoje isso desvaneceu bastante, mas, ainda resta um resfolego …

            Tem muito de um quê juvenil que em mim sumiu. Não de uma forma negativa eu creio mas, um amadurecimento. Pois, é óbvio que quem tem a capacidade de transformação somos nós. O que podemos e devemos esperançar é que façamos coisas de modo diferente de como vinhámos fazendo para que em determinado tempo, mês, dia ou ano o novo venha a tomar forma completamente. Fruto de trabalho, empenho, construção, não em um virar de calendário.

            Em época, quase que remota e extinta havia as estações do ano de forma mais determinada.. Logo, o início do mês de setembro se vislumbrava o final do inverno. Tenha sido ele intenso ou ameno. Sabíamos, através do calendário que o frio estava se dissipando. Que logo os primeiros raios de sol seriam realmente aquecedores.

            Quase no final de setembro, dia 21, é marcado pelo início da primavera. Como parece que devido ao inverno tudo havia hibernado e no primeiro sinal de calor a natureza começa a voltar a vida nos remetemos a sensação de renovo.

            Mas, é especial notar quantas vezes vivemos nossos invernos. Quantas vezes em qualquer estação do ano, seja lá a data da contagem de tempo estivermos mergulhamos num profundo inverno. Lógico que o mês de setembro e com ele a  primavera e eu tendo “primaveras” suficiente para muitas memórias me lembro da música “manhâs de setembro”!

            Veja essa tomada de consciência onde é descrito a saída do “inverno particular” que ora ou outra enfrentamos. Momentos em que vemos tudo acinzentado, escuro, nublado, névoa, neblina, situação em que a luz do sol e o calor parecem não nos alcançar, chamo de inverno:

 

“Fui eu que se fechou no muro e se guardou lá fora
Fui eu que num esforço se guardou na indiferença
Fui eu que numa tarde se fez tarde de tristezas
Fui eu que consegui ficar e ir embora
E fui esquecida, fui eu

Fui eu que em noite fria se sentia bem
E na solidão sem ter ninguém, fui eu
Fui eu que na primavera só não viu as flores
E o sol
Nas manhãs de setembro ...

 

           Observe a letra acima, praticamente toda tomada de decisão é nossa. “Fui eu que...” Fazemos as coisas, tomamos atitudes. Sem discutir aqui a capacidade ou consciência.

            Veja a tomada de decisão do poeta, compositor, contra esse estado de espírito descrito acima pelo qual todos passamos sendo que  só uma toamda de decisão prevalece sobre qualquer mero desejo de mudança ou, mudança de calendário.

            Soa como um grito de quem simultaneamente também está realizando um ato : “eu quero sair, eu sair falar ...”

            Em suma, daí vem meu esboçar de riso ao ler nos “feeds, bem vindo mês tal, que sua chagada traga isso ou aquilo”. Nem é de deboche.         

            Enfim, pode ser uma forma de falar, uma licença poética, mera repetição irrefletida, uma brincadeira … Desde que não seja uma crença firmada nisso …

            As estações climáticas ou de estado de espírito sobrevém mas, nos lembremos sempre de reagir : “eu quero sair! Eu quero falar !”

            Protagonize-se é assim que mudamos para melhor, fazendo as melhores mudanças. Florescendo como as flores, exalando perfume, frescor, exibindo renovo, colorindo e colorindo-se a partir do nosso  interior de onde deve e vem a verdadeira vida.

            Boa primavera ! Primavere-se !

           

  Silvana 06/09/2024

Sobre a autora:

"Que eu conheça pessoas, consiga interagir de forma leve, para que eu posso compartilhar minhas vivências e adquirir novos conhecimentos."

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