Depressão - Cura e cuidado

Depressão - Cura e cuidado

“Transformar o veneno em remédio” 

Essa foi a primeira frase que ouvi quando conheci Dani. Ela era uma amiga da faculdade e tinha uma filosofia de vida interessante. Eu era aluna do 2° ou 3° ano do curso de psicologia,  não lembro. Como assim transformar o veneno em remédio?

Remédio é uma coisa, veneno outra. Pensava eu com os meus 25 ou 26 anos de idade. O remédio é para remediar,  atenuar ou aliviar uma dor que incomoda. É isso que eu entendia de remédios ou medicamentos. Os medicamentos são comprados em farmácias. Existem 3 farmácias em cada esquina hoje. Será que nós estamos comprando mais saúde que antigamente? Então, porque ainda existe muita gente doente? Quanta contradição! Alguns comentam que na verdade,  a farmácia vende doenças. E se a sociedade caminha para promover corpos doentes, a indústria farmacêutica  é quem lucra e fica feliz com isso. É com a nossa dor que a farmácia lucra.  Embora, devamos reconhecer que temos muitos ganhos com o surgimento de medicamentos para diversas doenças. O que não podemos ignorar é quando temos efeitos colaterais severos ou não respondemos mais ao tratamento. É o momento certo para rever a rota do cuidado com o corpo. Buscar ajuda! 

 

Um amigo sempre dizia “Viver não é sem dor, mas se aguentar passa.” Essa frase ficou registrada na minha cabeça e ecoava….”se aguentar passa….se aguentar passa….passa...” E com o tempo eu percebi que não passava. Existem dores que nós não devemos AGUENTAR. Simplesmente, não devemos aguentar certas  coisas. Mas existem caminhos que nos levam para a aceitação de coisas inaceitáveis. Trágico!

Por muitos anos sofri de enxaqueca. Aos 9 anos cheguei para a minha mãe, apontei para a minha cabeça e disse “Aqui está doendo”. Ela olhou para mim e disse “Você está com dor de cabeça”. Pensei comigo…então é isso , eu tenho dor de cabeça. E com o tempo, mais dores e dores. À medida que eu crescia, as dores aumentavam. As minhas responsabilidades aumentaram também, e a tal dor de cabeça me paralisava. Tentei aguentar várias vezes. Algumas situações eu consegui suportar a dor e continuar o meu compromisso , mas nem sempre foi assim. 

Esse “aguentar” só foi possível com muitos analgésicos para aplacar a dor em dias temidos. Ou esperar o horário certo para comprar o remédio lá na farmácia depois da faculdade ou do trabalho. Enquanto a dor não passava eu aguentava “só um pouquinho já vai passar”. Cheguei aos 30 e poucos anos cronificando a dor de cabeça. Nem sabia que o uso recorrente de analgésicos cronificam a enxaqueca. Quando descobri já era tarde! Já havia cancelado muitos compromissos e sofrido em passeios e meios de transporte barulhentos e cheios de luz. 

Iniciei acompanhamento com neurologistas.Cinco especialistas no total. Tentei diferentes medicamentos para a dor. Mas nenhum aplacou a dor e me deu a qualidade de vida que eu gostaria e precisava para existir e sobreviver. Bom, teve um anticonvulsivante que ajudou, mas depois eu manifestei efeitos colaterais que eu nem imaginava ter.  Tive episódios de depressão e nos dias mais críticos  o pensamento  su1cid@. Por algum motivo manifestei esses efeitos colaterais. 

Demorei para notar isso. Mas um dia fui iluminada por um pensamento “acho que esse estado de humor e pensamentos negativos devem ser efeitos colaterais do medicamento. Bingo! Era isso mesmo. Parei imediatamente o uso do remédio  e iniciei outros e outros… 

Acontece que duas pessoas mencionaram o uso do óleo canabidiol. Eu demorei muito para dar uma chance. No dia que eu não sabia mais o que fazer, depois de tantas dores, entrei em contato com o médico e marquei a minha consulta e na mesma semana iniciei o meu tratamento com canabidiol. Confesso que não tinha muita certeza do que seria…mas comecei. Dei uma chance! Eu já não “aguentava” mais “aguentar” com ou sem remédios.  No mês de dezembro  dia 4, completa um mês que uso 3 vezes ao dia o óleo e o que eu posso dizer é que mesmo no começo do tratamento, já sinto melhoras. Parece milagre! A natureza  é maravilhosa!!! Se tem efeitos colaterais? Não! Apenas uma sonolência nos primeiros dias e mais nada. A intensidade das dores e a frequência diminuíram em 90%. 

 

Falamos muito em cura, mas precisamos falar de “uma cura pelo cuidado da pessoa que sofre”. Ao perceber a dor , toda tentativa de aplacar essa dor ou amenizar, são formas de cura. A cura pede cuidado e respeito com o nosso corpo. Perceber, cuidar de nossas dores, é uma forma de cura. No dia de hoje eu quero agradecer. Agradecer nossos ancestrais pela sabedoria milenar no cultivo e preparo de plantas medicinais. 

 

“Transformar o veneno em remédio” na filosofia budista é sobrepujar os desafios da vida, transformar sofrimento em alegria. Sabe! Não consegui isso sozinha. Muitas pessoas participaram da minha cura. Muitas mesmo.

 

Para finalizar, pensei muito esses dias sobre o quanto somos dependentes um do outro. Não vamos muito longe sozinhos! Mas se estivermos conectados pelo fio da vida e em rede de pessoas que se apoiam e se ajudam ( e se curam) certamente, iremos muito longe na estrada da vida. 

 

Se você chegou até aqui quero lhe dizer só mais uma coisa: “O inverno não falha em se tornar primavera” 


Viviane B. Santos

28/11/24